31 de ago. de 2008

A pig in a cage on antibiotics



Sábado encontrei a Thai trabalhando na Livraria Cultura no Iguatemi, conversa vai, conversa vem e ela me disse que está pensando em mudar pra França, tá um pouco de saco cheio dessa vida "me formei e agora tenho que saber que rumo minha vida vai tomar"... chegamos a conclusão de que deve ser alguma espécie de síndrome pós-formatura, ou algo do tipo.

Minha claustrofobia social apita em decorrência de alguns eventos específicos. Esses dias me bateu um clássico impulso capricorniano e deu vontade de desaparecer um tempo, fazer uma viagem longa: conhecer novos lugares para pensar "Nossa, lá é demais, queria voltar"; conhecer novas culturas para pensar "Nossa, como eu sou pequeno"; conhecer novas músicas e estilos pelos quais eu me apaixone; uma comida nova; conhecer novas pessoas para sentir saudades e novas pessoas que sintam saudades de mim.
Talvez mudar de ares, mudar de área, mudar de apto, de cidade?, talvez até de estado... e de país? Talvez nem tanto. Ainda tenho alguns bloqueios e alguma insegurança em relação ao futuro. Uma necessidade de garantí-lo (aprendi com o meu pai), de ter alguma segurança.
Talvez essa segurança seja apenas uma ilusão... como papel reciclado.

Mas depois que esses eventos se resolvem na minha mente o impulso capricorniano sossega, minha claustrofobia esfria novamente e o outro lado do meu ser contraditório assume. Apegado. Aos bens materiais, aos amigos, às pessoas, aos confortos e, por mais claustrofóbico que possa parecer, ao cômodo. AAARRRGH!

Por que é que a gente tem que saber o que vai nos acontecer, por que temos que garantir alguma coisa se é fato sabido que não temos a menor idéia do que vai nos acontecer amanhã? Por que é que temos que trabalhar e guardar dinheiro para um futuro sem sequer saber se vamos fazer parte dele.

E uma pergunta capisciosa: Por que é que nós mesmos nos impedimos de simplesmente aproveitar o presente? Como se fossemos crianças novamente, sem nos prender ao passado ou nos preocuparmos com o futuro.
Muitas vontades restritas por medos.

Claustrofóbico, não?

I don't know where I'm going, but I sure know were I've been.

29 de ago. de 2008

Bom dimais da conta

ÊÊÊ BERABA BÃO!

Curto demais essa cidade, é incrível como as pessoas são diferentes em Minas, terra da simpatia e dos erros de português, HAHAHAHA. Cheguei na rodoviária de Uberaba, com mochila e corda nas costas, de cavanhaque e cara de malaco. Sentei no banco do lado de uma menina pra esperar os amigos atrozes me buscarem e ela começou a conversar comigo. Isso JAMAIS aconteceria em Campinas.

Cheguei em Uberaba, fizemos um rango e já começou a montagem de fichas, BANDO DE VICIADOS!!! Fooooi até 4h da manhã e eu que acordei as 6h do dia seguinte pra escalar... "I'll sleep when I'm dead".

A Serra da Bocaina é muito massa, nunca tinha escalado em quartzito e é bem gostoso. Marcelinho me pegou na casa dos atrozes, ele e o Presidente, HAHAHAHA QUE FIGURA, pensa no sotaque de mineiro mais puxada DO MUNDO E REGIÃO.

Esses dias estava comentando com a Babi que o contrário de uma "pessoa simples" não é uma pessoa sofisticada ou rica, mas sim uma "pessoa complicada". O pico fica dentro de uma fazenda particular e mais uma vez fiquei pasmo com a simpatia, não só do mineiro, mas das pessoas mais simples.


"Meu nome é João Bosco Ferreira Silva, mas pode me chamar de João Capeta, he he"


Conheci o Seu Jão Capeta, o capataz da fazenda. Um senhor de VÁRIOS anos, extremamente simpático, alegre e MUITO ENGRAÇADO, que convidou a gente para dentro da casa dele, ofereceu água pra levarmos pras vias e ainda nos convidou pra jantarmos quando voltássemos "das escalage".
bonsai (4sup/5), comando delta (6), sombra e água fresca (5sup/6), ritual satânico (7a), vitamina C (7c)


Quando cheguei em casa estava desesperado, AQUELA PORRA DE CAVANHAQUE TAVA INCOMADANDO DEMAIS!!! Foi o fim do cavanhas, precisei tirar antes de retormarmos a jogatina.

No dia seguinte combinei de fazer boulder em Uberaba mesmo com o Marcelo, mas AAAANTES saí com os atrozes para almoçar e comemorar o novo emprego. Moí meus dedos nos boulder, esgotei.
serembroxove (v0), valentine's day (v1), sái sangue (v2), chorinho (v3)



Depois disso, jogos, descanso, saidinhas, rangos e risadas com o MAIOR ESPETINHO DO MUNDO... eita molecada que faz falta. Agora volta pra Campinas, ia chegar e cair direto pra Ubatuba, mas não deu tempo. Bora curtir o fim de semana frio de CPQ.

25 de ago. de 2008

...minimum credula postero

Ontem fui dormir passando mal, maldito dumping. Deitei desconfortável, demorei pra dormir e SONHEI QUE ERA GORDO DENOVO!!! NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!!! Ainda bem que era só um sonho.

Acordei cedo hoje, mas fiquei na cama preguiçando e caí no sono novamente e de repente...

CLICK!!!

VOU PRA UBERABA AMANHÃ! Tinha comentado com o Lê que queria ir pra lá e tinha comentado um tempo atrás com o Marcelo que tava pensando em ir.
Economizar de cu é rôla, eu tenho uma grana de reserva e vou aproveitar essas "férias", levantei e fui procurar meu celular (tinha deixado no carro). Quando pego o celular: 1 Missed Call... Marcelo Uberaba. HÁ, TÁ TIRANDO, NÉ? HAHAHAHAHA

Deu vontade... vou passar algumas horas comigo mesmo na estrada, vou pra Uberaba fazer boulder, vou conhecer a Serra da Bocaina e fazer umas vias por lá e jogar um RPGzinho às noites com o Lê e o Bonon... sexta-feira eu volto.

abraaaasssss!!!

PS: De trilha sonora uma musguinha ANIMAL com um dos melhores solos DO MUNDO E REGIÃO!

¬¬ poutz... não achei a música no Deezer nem no Seeqpod, vai youtube então.

22 de ago. de 2008

Clicks

Espero por clicks.
Um click aqui, um click lá e mais alguns clicks no caminho.
Os clicks não precisam ser simultâneos, os clicks não precisam ser iguais, os clicks podem vir de muitos jeitos, podem vir em muitos momentos, podem vir quando você não espera, podem vir do nada, podem vir quando você os chama, podem ser click bons, podem ser clicks ruins... mas quanto mais clicks, melhor.

Estava clickando por aqui e por ali, pensando justamente nos clicks, quando de repente... CLICK.
Um click nem-bom, nem-ruim. Um click "médio". E quando ele veio eu pensei
"AAAAAHHHHNNNN, acho que eu entendi!"

Bons clicks para todos.

21 de ago. de 2008

Travelin' man


Discover Lynyrd Skynyrd!


Demorei MUITOS anos pra aprender a gostar de viajar. Chega a ser ridículo pensar que até uns 2 anos atrás eu simplesmente NÃO GOSTAVA de viajar. Principalmente me vendo hoje em que eu dificilmente passo um fim de semana inteiro em Campinas (e só não vou mais pra longe e por mais tempo por causa do trabalho).

Hoje a tarde estava fuçando em alguns orkuts de amigos meus e vendo fotos eu tive um estalo e me decidi por algo:
QUERO FAZER UM MOCHILÃO PELA EUROPA!

A partir do mês que vem começo a juntar dinheiro para que no final do ano que vem ou começo de 2010 eu faça um mochilão de uns 30 dias. Esse mundo é MUITO grande e tem MUITO lugar que, como diz o Nicholas, preciso "conhecer antes de perecer".

Já arrumei meu parceiro que vai começar a juntar a grana dele também, pretendemos fazer essa viagem durante nossas férias de trabalho, mas se não conseguir isso, VOU DO MESMO JEITO. Temos aí um bom tempo para pensar em passaportes e vistos, além de planejamento de roteiro, mas uma coisa eu sei: Espanha, França e Alemanhã serão paradas obrigatórias (até pq tenho lugar pra ficar por lá, hahahaha).

Travelin' man, it's not what I've always been. But it's what I want to be.

E quem quiser acompanhar, esteja mais do que convidado.

19 de ago. de 2008

Massivo Pt.2

Fomos para o camping, encontrar o Bitor e a Mari. O camping show de bola, sossegado, isolado e o melhor: só para nós.

Montamos as barracas, tomamos banho, nos agasalhamos e sentamos para cozinhar nosso jantar de miojos e cup noodles, tomando vinho e jogando conversa fora até umas horas.
No final das contas ficamos eu, bitor e fro dando risada, falando merda, escorregando para pegar o balde, HAHAHAHA... quanta merda.

No dia seguinte foi a vez de levar o Bitor para O RETORNO À ESCALADA.
Depois de 1 ano e meio parado graças a sua pintite, ele retorna triunfante para realizar a Normal do Baú e deu um costas de mão moral no Fro dispensando encordamento na travessia do col (muito bom djovem). Tocamos a Normal para o djovem curtir o visual FRACO que tem lá de cima.
Dessa vez foi dia de tomar um chá com mel no topo da via e não fomos para o cume do Baú, ao invés disso, aproveitamos a corda dupla do pessoal que subiu antes e fizemos um rapel de uns 50m pra economizar tempo e encontrar o pessoal no Bauzinho.

Frutas secas, fotos, papos e fomos para a cidade comer um sanduba MUITO BOM na lanchonete que eu, obviamente, não lembro o nome iluminados pela lua cheia.
Depois disso pegamos estrada de volta em que eu dormi o tempo todo, tirando o momento que fui acordado por uma desesperadora cãimbra NAS DUAS PERNAS:
"NOSSA, PÁRA O CARRO"
"ESTICA AS PERNAS"
"NUM ADIANTA"
"CHEGA O BANCO PRA FRENTE"
"UFFFFFFF, PASSOU".

agora com todas as fotos:

18 de ago. de 2008

Massivo Pt.1

Fazendo uso não autorizado, porém não indevido, da gíria dos outros... foi meu fim de semana.

O Frossard fez o favor de me inscrever junto com ele pra mandar a normal do Baú no festival do Dia do Baú que estava tendo. Eu fiz poucas vias longas na minha vida e não fazia idéia de como era a Normal do Baú, só tinha ouvido falar que o acesso era meio treta. Assim, tive que ir para o inferno, dormir na casa dele pra ir com ele no sábado de manhã cedo (já que o Bitor e a Mari só sairiam as 14h de Campinas)... FUI.

Cheguei a conclusão de que, depois de 15 anos morando em Campinas, eu virei caipira de vez. Cheguei na rodoviária Tietê e fui pro metrô, não sabia andar naquela porcaria, mas eu realmente parecia um caipira: Olhando para todos os lados, desacostumado com aquela monte de pessoas passando, cada um de um jeito, HAHAHA.
Me confundi numa das estações, tem muita saída... mas fui, saí do metrô perguntando tudo, perguntando onde ficava a rua do Fro e toca andar a pé pelo inferno com uma mochila lotada de equipo (nem tava pesada não). CACETE como aquela cidade é grande... é muito louca, me sinto pequeno naquela cidade (caipirão), talvez o inferno não seja tão ruim assim... NOOOOT.

Dormimos mais do que devíamos saímos do inferno as 8.30h da manhã, perdendo a operação limpeza das trilhas do Baú, mas fomos lá pra mandar a Normal.
Só o acesso da via já é espetácular, um série de trepa-pedras BEM EXPOSTA com abismo para os dois lados; tudo bem tranquilo, mas requer BASTANTE cuidado. A via é super tranquila e o visual é simplesmente ANIMALESCAMENTE ANIMAL!!! LINDA a via.
Duas cordadinhas, nenhum move difícil, só curtição.
Tiramos umas fotos na primeira parada, onde ainda tinha sol e eu tava numa boa de regata. No final dda segunda cordada a gente para logo a baixo do teto do baú: CARA, QUE VISUAL ALUCINANTE, passei um frio do cacete na sombra e no vento fazendo seg pro Fro, que estava com o anorak na mochila dele, mas quando ele chegou na parada foi massivo demais: sentamos em baixo no teto, ancoramos mochilas, colocamos casacos e tomamos um café quentinho "apreceiando" a paisagem. PRICELESS!
Subimos para o cume e lá encontramos dois pangarés, assistimos a um por-do-sol RETARDADO, com o céu cheio de gliders... PRICELESS



Não fosse suficiente, ainda fomos preseteados com a lua. Quando estávamos descendo olhamos para a lua: um filetinho branco no céu azul escuro, DEMAIS. Depois que descemos íamos encontrar o Vitor e a Mari e então olhamos para a lua denovo... estava quase cheia: "PORRA, É UM ECLIPSE!"

PRICELESS!!!



Agora o Vitor tá chegando aqui pra eu pegar o resto das fotos e continuar.

14 de ago. de 2008

...let it go



Deixar os problemas de lado, mesmo que só por um fim de semana. Esquecer de dinheiro, esquecer de trabalho, esquecer probleminhas de saúde, esquecer de qualquer ansiedade, insegurança ou confusão que me assole.

Apenas curtir as melhores companhias (infelizmente não vai todo mundo que eu queria), curtir um lugar espetacular, sair do ambiente comum e curtir a natureza, escalar um pouquinho e, com certeza, PASSAR FRIO, MUITO FRIO HAHAHA... esse há de ser o fim de semana.

Aproveitando o tempo livre pra arrumas as coisinhas:
. colchão inflável (tem que ver se tá bala)
. saco de dormir (até pensei em comprar um mais forte, pq VAI ESTAR FRIO)
. barraca
. lanterna
. MUITA ROUPA, segunda pele, anorak, fleece, calça forrada, gorro, cachecol, balaclava, luva, meias, etc.
. comidas (para não gastar lá)
. equipamentos (quem sabe fazer a primeira via no Baú ou Ana Chata)
. acho que é isso

bom, ótimo final de semana para todos os djóvens.

12 de ago. de 2008

Carefull what you wish



Shit happens

...carefull what you wish, you just might get it.

Bom, se eu queria que me surpreendessem... eu consegui o que eu queria.
Mudar, isso vai acontecer agora. Não sei ainda qual será o tamanho da mudança. De imediato, a correria para correr atrás.


Que merda, mas a males que vêm para bem. Que este seja um deles.
Bom... um bem já vai ter:

CLIMBING DURANTE A SEMANAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

8 de ago. de 2008

A incoerência é a mãe da liberdade

copy > paste

[...]
“E se alguém passasse agora do meu lado e segurasse minha mão? E se andássemos juntos por apenas uma quadra, em silêncio, compartilhando nossas solidões anônimas?”; “E se algum louco começasse a gritar ou tirar a roupa ou beijar as mulheres de salto alto ou jogar sorvete nas nossas caras?”; “E se alguém nos tirasse dessa previsibilidade solitária, desse vazio de cruzar com centenas de pessoas todo dia sem nunca conhecer suas histórias?”; “Que tal eu não voltar para casa e arriscar um jantar na casa da primeira família estranha que me acolher”.
[...]
Onde perdemos a capacidade de não seguir coerências? Por que mesmo achamos absurdo pegar um táxi sem destino apenas para conversar com o taxista? Ou andar pela cidade, sem celular, parando a cada ponto que nos atrai? Por que não é natural faltar um dia no trabalho sem precisar ligar com alguma justificativa manjada? Por que carregamos um mesmo nome a vida toda em vez de ganhar um novo a cada 5 anos, 17 dias e 22 horas? Por que pegar o metrô mais próximo se podemos andar e deixar que o céu nos percorra um pouco mais?

Quando seguimos uma coerência e esquecemos que podemos descontinuá-la, somos reféns de um padrão: deixamos de nos mover e passamos a ser movidos. No dia anterior, consideramos não ir naquela festa – havia outras opções, quase fomos para outro lugar. No dia seguinte, pensamos que talvez fosse uma boa ligar e continuar. Meses depois, imaginamos que seria ótimo passar mais alguns meses com ela ou ele. Anos ou décadas depois, quase nos matamos se ele ou ela não liga. O hábito nasce por liberdade e cresce à medida em que empalidece sua fonte. No começo, decidimos fumar. Meses depois, o cigarro decide por nós.

A coerência não só é fruto do hábito ou de uma linha de ações pré-definidas. Ela também se configura como um ringue de boxe ao nosso redor, um espaço de possíveis reações. Se alguém nos machuca, nos sentimos no direito de sentir raiva e ferir a pessoa de volta (ainda que só em pensamento). Nosso senso de justiça é o maior dos algozes. E os amigos aprovam: “Maltrate-o mesmo, é um absurdo o que ele fez com você”. O outro define nossa ação. Alguém nos coloca no ringue e automaticamente aceitamos a luta, seja no ataque ou na defesa, na culpa ou na violência, no arrependimento ou na vingança, como vencedor ou vítima.


Surprise me, surprise yourself.

6 de ago. de 2008

you're strange, but don't change



Musga:


Oh, hello, Mr. Soul, I just dropped by to pick up a reason
For the thought that I caught that my head is the event of the season
Why in crowds just a trace of my face could seem so pleasin'
I'll cop out to the change, but a stranger is putting the tease on

I was down on a frown when the messenger brought me a letter
I was raised by the praise of a fan who said I upset her
Any girl in the world could have easily known me better
She said you're strange, but don't change, and I let her

In a while, will the smile on my face turn to plaster
Stick around while the clown who is sick does the trick of disaster
For the race of my head and my face is moving much faster
Is it strange I should change I don't know, why don't you ask her

4 de ago. de 2008

A PREGUIÇA HUMANA | DRÁUZIO VARELLA

Se você é daqueles que esperam a visita da disposição física para fazer exercícios, desista.
MAL DESEMBARQUEI no aeroporto Santos Dumont, dei de cara com uma jibóia contorcida que avançava em passo de procissão.
Era uma fila longa e grossa constituída por mulheres com trajes formais e homens de terno escuro, ejetados pelos aviões que aterrissavam no primeiro horário da manhã.

Usuário contumaz da ponte aérea que liga São Paulo ao Rio, jamais havia me deparado com aquela aglomeração ordeira.
Assim que a jibóia fez a curva, saí de lado para enxergar a origem do congestionamento.
Não pude acreditar: a fila desembocava na boca da escada rolante. Ao lado dela, a escada comum, deserta como o Saara.
Imaginei que houvesse alguma razão para tanta espera, quem sabe a escada mecânica estivesse obstruída; mas, como não percebi nenhum obstáculo, caminhei em direção a ela. Não fosse a companhia de um rapaz de mochila nas costas, dois degraus à minha frente, eu teria descido no desamparo.
Se ainda fosse para subir a escada rolante, o esforço maior e a transpiração àquela hora da manhã talvez justificassem a falta de iniciativa. Os enfileirados, no entanto, berrando em seus celulares, em pleno vigor da atividade profissional, recusavam-se a movimentar as pernas mesmo para descer.

Se perguntássemos para aquele povo se a vida sedentária faz bem à saúde, todos responderiam que não. Pessoas instruídas estão cansadas de ler a respeito dos benefícios que a atividade física traz para o corpo humano: melhora as condições cardiorrespiratórias, reduz o risco de doenças cardiovasculares, reumatismo, diabetes, hipertensão arterial, câncer, degenerações neurológicas etc.
Por que, então, preferem aguardar pacientemente a descer um lance de degraus às custas das próprias pernas?

Por uma razão simples: o exercício físico vai contra a natureza humana. Que outra explicação existiria para o fato de o sedentarismo ser praticamente universal entre os que conseguem ganhar a vida no conforto das cadeiras?

A preguiça para movimentar o esqueleto não é privilégio de nossa espécie: nenhum animal adulto gasta energia à toa. No zoológico, leitor, você jamais encontrará uma onça dando um pique aeróbico, um gorila levantando peso, uma girafa galopando para melhorar a forma física. A escassez milenar de alimentos na natureza fez com que os animais adotassem a estratégia de reduzir o desperdício energético ao mínimo.
A necessidade de poupar energia moldou o metabolismo de nossa espécie de maneira tal que toda caloria ingerida em excesso será armazenada sob a forma de gordura, defesa do organismo para enfrentar as agruras dos dias de jejuns prolongados que porventura possam ocorrer.

Por causa dessas limitações biológicas, se você é daquelas pessoas que esperam a visita da disposição física para começar a fazer exercícios com regularidade, desista. Ela jamais virá. Disposição para sair da cama todos os dias, calçar o tênis e andar até o suor escorrer pelo rosto nenhum mortal tem.

Encare a atividade física com disciplina militar ou esqueça-se dela. Na base do "quando der, eu faço", nunca dará.
Falo por experiência própria. Sou corredor de distâncias longas há muitos anos. Às seis da manhã, chego no parque, abro a porta do carro e saio correndo. Não faço alongamento antes, como deveria, porque, se ficar parado, esticando os músculos, volto para a cama. Durante todo o percurso do primeiro quilômetro, meu cérebro é refém de um pensamento recorrente: não há o que justifique um homem passar por esse suplício.
Daí em diante, as endorfinas liberadas na corrente sangüínea tornam o sofrimento mais suportável. Mas o exercício só fica bom, de fato, quando termina. Que sensação de paz e tranqüilidade! Que prazer traz a certeza de que posso passar o resto do dia sentado, sem o menor sentimento de culpa.

Se eu perguntasse às pessoas daquela fila por que razão levam vidas sedentárias, todas apresentariam justificativas convincentes: excesso de trabalho, filhos que precisam ir para a escola, obrigações familiares, trânsito, falta de dinheiro, violência urbana.
No passado, diante desses argumentos, eu ficava condoído e me calava. Os anos de profissão mudaram minha atitude, entretanto: escuto as explicações em silêncio, mas não me comovo com elas. O coração vira uma pedra de gelo. No final, quando meu interlocutor pergunta como poderia encontrar tempo para a atividade física regular, respondo:
"Isso é problema seu."


Depois de um domingo deliciosamente sedentário...
AAAAHHHHH MULEQUE BÃÃÃÃO!
 
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